Pesquisadores de grupos e núcleos acadêmicos de diversas instituições de educação superior (IES) brasileiras puderam trocar experiências e discutir estratégias para consolidação de uma rede, visando qualificar a gestão e difusão dos conhecimentos sobre gênero e sexualidade no país.
A reunião foi viabilizada pelo Fórum de Grupos de Pesquisa, atividade que integrou a programação do V Seminário Enlaçando Sexualidades. O evento foi promovido, entre 6 e 8 de setembro, no Fiesta Convention Center, em Salvador.
De acordo com a coordenadora da iniciativa e do grupo de pesquisa Enlace (UNEB), Suely Messeder, é essencial que pesquisadores, instituições e gestores sejam “enovelados” para materialização de alianças.
“Em tempos mais do que sombrios em que vivemos, pensar o Enlaçando é um flash de alegria. Tentamos positivar os saberes sobre a sexualidade, identificando como podemos fazer isso e quais repertórios podemos utilizar. Este evento significa um ponto de existência e resistência a todos os preconceitos”, destacou a pesquisadora.
Pela primeira vez no seminário, a coordenadora do Núcleo de Identidades de Gênero e Subjetividades (Nigs) da Universidade Federal de Santa Catarina (Ufsc), Miriam Grossi, salientou a necessidade de definição coletiva de uma pauta de lutas e reivindicações.
“Nós somos hoje no Brasil mais de 1.5 mil núcleos de pesquisa sobre mulher, gênero, feminismo e sexualidades. Esse é um grande crescimento. Somos muitos e é urgente uma articulação política junto às agências de fomento e às políticas de financiamento”, ressaltou Miriam, comemorando a oportunidade de participar da edição que marca uma década da criação do seminário.
Espaço de resistência
Cordenadora do Centro de Estudos em Gênero, Raça/Etnia e Sexualidade (Cegres – Diadorim) da UNEB, Amélia Maraux destacou que o fórum consiste em um espaço de resistência.
“Esta é uma tentativa de nos encontrarmos, sabermos quantos somos e de definir estratégias de articulação em rede para resistir a essa política de desmanche da universidade pública e gratuita”, frisou Amélia.
Ainda de acordo com a pesquisadora, o Diadorim foi proponente de dois enlaces temáticos e foi representado por mais de 10 integrantes na programação do evento. “Estamos aqui para também ouvir e aprender, para que possamos fortalecer e ampliar a nossa capacidade de construção de projetos”, afirmou.
A professora Fátima Lima, membro do Núcleo de Estudos em Discursos e Sociedade (Nudes) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Ufrj), ressaltou que a iniciativa surgiu para consolidar a produção de conhecimento sobre os temas fora do eixo Sul-Sudeste.
“Essa é uma marca fundamental, decolonial e anticolonial frente a outros trabalhos desenvolvidos por programas de pós-graduação. Acredito que estamos em um momento de redesenhar e fazer valer outras epistemologias. O Enlaçando vem somar a esse conjunto de desejos”, avaliou a professora.
Múltiplos atores
Coordenador do Grupo de Estudos Feministas em Política e Educação (Gira) da Ufba, Felipe Fernandes parabenizou a equipe organizadora do Enlaçando pelo pioneirismo ao criar e manter “o primeiro grande evento cujo o tema foi a sexualidade no campo das Ciências Humanas no Nordeste do Brasil”.
“Aqui não estamos reunindo apenas acadêmicos, mas também professores das redes públicas e representantes dos movimentos sociais. Assim, buscamos ultrapassar os muros da universidade. Temos que conhecer, para transformar essa sociedade em um lugar melhor para todos e todas”, destacou também o professor.
A programação do evento contou com mesas-redondas, minicursos, oficinas, enlaces temáticos, fóruns de grupos de pesquisas (jovem pesquisador, de extensão e da educação básica), lançamento de livros, mostra audiovisual e apresentação cultural.
A doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade Federal de Minas Gerais (PPG-PSI), Paula Gonzaga, acompanhada pela pesquisadora Claudia Andrea Mayorga Borges, ministrou minicurso sobre escuta e acolhimento de mulheres que interromperam a gestação.
“Propomos a politização e a formação das pessoas para uma escuta qualificada, que não seja degradante e punitiva. Buscamos oferecer uma discussão que não temos em nossas graduações, porque sabemos que a criminalização do aborto faz com que ele aconteça na clandestinidade, então, essas mulheres abortam sozinhas, sem informação e se expõem a mais riscos”, explicou Paula.
A diversidade temática e de representações na programação do evento motivou o interesse do estudante Breno Caldas, do Bacharelado Interdisciplinar em Humanidades da Ufba.
“Como o seminário é internacional, temos oportunidades de ouvir relatos e outras referências que não imaginamos. Ouvir depoimentos de outras realidades é muito importante para quem deseja pesquisar, porque nos possibilita uma visão mais ampla sobre o que está acontecendo”, avaliou o discente.
O V Enlaçando Sexualidades foi realizado pelo grupo de pesquisa Enlace, em parceria com o Grupo de Atuação em Defesa das Mulheres (GEDEM), o Ministério Público do Estado da Bahia (MP-BA), o Doutorado Multi-institucional e Multidisciplinar em Difusão do Conhecimento, oferecido pela UNEB e pela Ufba, e o Programa de Pós-Graduação em Crítica Cultural (Pós-Crítica) do Campus II da instituição estadual, em Alagoinhas.
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