Nota Conjunta sobre a tendência da pandemia da COVID-19 no Oeste da Bahia

Coronavírus é uma família de vírus que causa infecções respiratórias. O novo agente do coronavírus (SARS-CoV-2) foi descoberto em 31 de dezembro de 2019 e provoca a doença chamada de COVID-19, tendo os primeiros casos registrados na China. Segundo dados do Ministério da Saúde (MS), a COVID-19 tem se disseminado de forma crescente no Brasil, com registro, até o dia 6 de maio de 2020, às 18:50h, de cerca de 125.218 casos confirmados e 8.536 óbitos, correspondendo a 6,8% de letalidade (https://covid.saude.gov.br/). De acordo com dados oficiais da Secretaria de Saúde do Estado da Bahia (SESAB), o estado também vem acompanhando essa progressão, tendo até 6 de maio de 2020, às 18h, 4.301 casos confirmados com 160 óbitos e taxa de letalidade de 3,7% (http://www.saude.ba.gov.br/category/emergenciasem-saude/). Na região Oeste da Bahia foram registrados 19 casos confirmados nos seguintes municípios: Ibotirama (1); Santa Maria da Vitória (1); Barreiras (2); Barra (2); Luís Eduardo Magalhães (2); Serra do Ramalho (2); Oliveira do Brejinhos (4); Morporá (5) (Figura 1).

Segundo projeções de casos fundados no modelo SIR (Suscetíveis, Infectados e Recuperados), nota-se a tendência de crescimento exponencial na região Oeste da Bahia ao decorrer do tempo, com uma diferença significante com e sem o distanciamento social. Na Figura 2 observa-se que com distanciamento social (com quarentena) são projetados 19 casos, no entanto, sem distanciamento (sem quarentena) o quantitativo de pessoas infectadas poderia chegar a 351 casos. Dessa forma, em 10 dias, a não adesão ao distanciamento social contribuiria para o aumento de 332 casos. Essa diferenciação de casos com e sem distanciamento social se mantêm de forma significativa no decorrer do tempo, atingindo um maior quantitativo de cidades do Oeste da Bahia, como visto nas Figuras 3, 4, 5 e 6, podendo resultar no 50º dia com o registro de 6.994 casos com quarentena e 15.736 casos sem quarentena. Assim, essas projeções sugerem, fortemente, que as medidas de distanciamento social e redução do fluxo de pessoas em ambientes que promovam aglomeração como escolas, universidades, comércio, transportes coletivos municipais e intermunicipais podem achatar a curva da epidemia e a disseminação do novo coronavírus na região e, portanto, reafirmamos que é imprescindível não afrouxar as ações de distanciamento social e controle sanitário, com vistas a proteger a vida das pessoas e a capacidade de resposta do sistema de saúde regional.

Recomendamos à população que busque adotar as medidas de prevenção orientadas pelas autoridades de saúde, visando evitar que novos casos possam ocorrer na região Oeste da Bahia. Dentre elas, ressaltamos: a necessidade de lavar com frequência as mãos até a altura dos punhos, com água e sabão, ou então higienizar com álcool em gel 70%; ao tossir ou espirrar, cubrir nariz e boca com lenço ou com o braço, ao invés de usar as mãos; evitar tocar olhos, nariz e boca com as mãos não higienizadas; manter uma distância mínima de cerca de 2 metros entre pessoas que estejam tossindo ou espirrando; evitar abraços, beijos e apertos de mãos; higienizar com frequência o celular e os brinquedos das crianças; não compartilhar objetos de uso pessoal, como talheres, toalhas, pratos e copos; manter os ambientes limpos e bem ventilados; evitar circulação desnecessária nas ruas, estádios, teatros, shoppings, shows, cinemas e igrejas. Priorize ficar em casa e, se estiver doente, evite contato físico com outras pessoas, principalmente idosos e doentes crônicos, permanecendo em casa até melhorar; utilize máscaras caseiras ou artesanais feitas de tecido em situações de saída de sua residência; e coloque a máscara com cuidado para cobrir a boca e nariz, amarrando com segurança para minimizar os espaços entre o rosto e a máscara.

 

As evidências científicas apontam um colapso mais significativo sobre os sistemas e serviços municipais de saúde com baixa capacidade de estruturação e oferta de equipamentos, equipes e insumos para saúde, inclusive nos casos em que a demanda por leitos de terapia intensiva possa extrapolar a capacidade de oferta dos hospitais de referência (WALKER et al., 2020).

Diante da flexibilização no funcionamento do comércio em várias cidades da região Oeste da Bahia, salientamos que os dados de projeção apresentados ratificam a necessidade dos gestores municipais avaliarem, com cautela, os impactos dessa flexibilização sobre as medidas de distanciamento social necessária ao controle da pandemia da COVID-19. Isso porque, embora o crescimento e o impacto da pandemia da COVID-19 estarem relacionados com a composição etária da população, outras questões precisam ser analisadas como as comorbidades associadas à maior gravidade, perfil ocupacional dos infectados, planejamento e a disponibilidade de leitos.

Neste momento, torna-se importante analisar o cenário dos casos, possíveis riscos e capacidade de resposta da rede de saúde. A região Oeste da Bahia é um cenário preocupante, pois, de acordo com os dados da Secretaria de Saúde do Estado da Bahia (SESAB),apresenta baixa projeção na ampliação de leitos regionais para os casos graves da COVID-19, ao passo que a população ultrapassa 500 mil habitantes, distribuída em 37 municípios de pequeno e médio porte, com frágil estrutura (financeira, tecnológica e de pessoal) para ampliação de leitos e aquisição de ventiladores mecânicos. Conta-se com o planejamento de um número ínfimo de leitos de UTI para toda região, sendo 10 leitos no Hospital do Oeste e com contratualização de mais 20 leitos no Hospital Central de Barreiras-BA (BAHIA, 2020).

Destacamos que o aumento no número de pacientes com COVID-19 demanda uma necessidade de oferta de atendimentos na rede assistencial dos municípios e, caso essa rede de serviços não tenha capacidade instalada para operar com a demanda emergente, a situação poderá implicar em desassistência e risco de alta mortalidade dos casos graves.

Outra problemática em caso de descontrole da pandemia na região Oeste da Bahia está nos desafios da testagem para a COVID 19, em virtude do cenário nacional apresentar baixa capacidade de produção, montagem e distribuição dos kits de testagem; a dificuldade de compra de insumos no mercado internacional, diante da concorrência do Brasil com países desenvolvidos quanto ao suprimento de reagentes produzidos; e a limitada oferta e formação de profissionais com capacidade técnica para executar os tetes moleculares (REDE COVIDA, 2020).

Pesquisadores do mundo inteiro têm buscado o desenvolvimento ou a validação de estratégias farmacêuticas e não farmacêuticas para o tratamento da doença, vacinas para prevenção e elaboração de testes diagnósticos. Entretanto, estudos que envolvem o desenvolvimento de vacina ou medicamentos para o tratamento de doenças demandam tempo, pois as descobertas científicas estão pautadas em um processo metodológico que precisa ser seguido com seriedade e racionalidade, de modo a gerar dados seguros para que se alcancem conclusões sólidas. Todo esse processo envolve várias etapas, de modo que, para o surto da COVID-19, até o presente momento, não há nenhuma vacina que tenha se mostrado eficaz para que possa ser aplicada com segurança à população e também não há nenhum medicamento que possa ser usado no tratamento geral da doença. Ao contrário do que vinha sendo divulgado pela mídia, sobre os efeitos promissores da cloroquina e seus derivados no tratamento da COVID-19, os resultados ainda não são conclusivos sobre seu uso para o tratamento geral da COVID-19 (GAO e ZHENXUE, 2020; LIU et al., 2020; YAO e ZHANG et al., 2020). Além disso, em alguns países, inclusive no Brasil, os estudos com essa substância já foram interrompidos em função dos efeitos colaterais terem sido maiores do que os efeitos terapêuticos.

Por outro lado, diante da inexistência de vacinas e de medicamentos para o tratamento dessa doença, vários estudos têm demonstrado que as intervenções não farmacêuticas, como as medidas de distanciamento social, tornam-se essenciais de modo a contribuir para atrasar o impacto temporal da pandemia, reduzindo as taxas de transmissão da doença e, consequentemente, reduzindo o número de mortes. Essas medidas poderiam potencialmente fornecer um tempo valioso para a produção de vacinas e para a validação ou desenvolvimento de medicamentos antivirais, além de diminuir a sobrecarga repentina do sistema de saúde regional (MARKEL, STERN, CETRON, 2008; QUALLS et al., 2017; SHORT, KEDZIERSKA, SANDT, 2018; BARRO, URSÚA, e WENG, 2020; CORREIA, LUCK e VERNER, 2020; WALKER et al., 2020).

Diante do panorama relatado, externamos nossa preocupação com a flexibilização no distanciamento social nas cidades da região Oeste da Bahia. Essa preocupação também foi evidenciada no boletim informativo do Ministério da Saúde, do dia 28 de março de 2020, cuja equipe estuda a melhor forma de retornar às atividades com cautela e segurança a toda população. Também nos preocupamos com a segurança dos trabalhadores que retornarão às atividades, uma vez que estamos enfrentando escassez de insumos, como álcool gel 70% e de equipamentos de proteção individual como máscaras, toucas, luvas, aventais, inclusive para uso dos profissionais de saúde em serviços de todo o país. Por esse motivo, reiteramos a manutenção de ações de distanciamento social para população e um planejamento cauteloso e adequado para utilização dos serviços essenciais para população.

Nesse sentido, os Grupos de Trabalhos (GT’s) para o gerenciamento da COVID19 da UFOB, da UNEB e do IFBA orientam que sejam avaliados os impactos que as decisões tenhamocasionado sobre as medidas de distanciamento social e um possível aumento da circulação de pessoas nas ruas, com consequente crescimento da exposição da população ao risco de infecção pelo novo coronavírus. Torna-se imprescindível que se estabeleça uma metodologia descrita e transparente para implementação do modelo de distanciamento social e o planejamento e monitoramento do acesso e fluxo das pessoas nesses locais, garantindo equipes necessárias para orientação e o exercício do adequado controle sanitário, conforme orientações das autoridades de saúde nacional e estadual.

Diante dos dados apresentados, respeitosamente, recomendamos aos senhores gestores públicos da região para que mantenham as restrições às atividades não essenciais. Acreditamos que podemos agir simultaneamente no sentido de nos tornar mais fortes para enfrentamento da pandemia, minimizando seus impactos regionais.

REFERÊNCIAS

BAHIA (Estado). Plano Estadual de Contingências para Enfrentamento do Novo Corona Vírus – SARS nCoV2. Secretaria de Saúde do Estado da Bahia: Salvador: Bahia, março, 2020. Disponível em:< http://www.saude.ba.gov.br/wpcontent/uploads/2020/03/Plano-de-Continge%CC%82ncia-Coronav%C3%ADrusBahia-20-de-marco-2020.pdf>

BARRO, R. J.; URSÚA, J. F.; WENG, J. The Coronavirus and the Great Influenza Pandemic: Lessons from the “Spanish Flu” for the Coronavirus’s Potential Effects on Mortality and Economic Activity. NBER Working Paper. n. 26866, p. 1-25, 2020. Disponível em: <doi: 10.3386/w26866>.

CORREIA, S.; LUCK, S.; VERNER, E. (2020). Pandemics Depress the Economy, Public Health Interventions Do Not: Evidence from the 1918 Flu (March 26, 2020). Disponível em: <https://ssrn.com/abstract=3561560> ou <http://dx.doi.org/10.2139/ssrn.3561560>

GAO J.; ZHENXUE, T.; Xu, Y. Breakthrough: Chloroquine phosphate has shown apparent efficacy in treatment of COVID-19 associated pneumonia in clinical studies. BioScience Trends, v. 14, n. 1, p. 72-3, 2020.

LIU, J.; CAO, R.; XU, M.; WANG, X.; ZHANG, H.; HU, H.; LI, Y.; HU, Z.; ZHONG, W.; WANG, M. Hydroxychloroquine, a less toxic derivative of chloroquine, is effective in inhibiting SARS-CoV-2 infection in vitro. Cell Discov., v. 6, n. 16., p. 2-4, 2020. Disponívelem: <doi: 10.1038/s41421-020 0156-0>.

MARKEL, H.; STERN, A. M.; CETRON, M. S. Non-Pharmaceutical Interventions Employed By Major American Cities During the 1918–19 Influenza Pandemic. Trans Am Clin Climatol Assoc., v. 119, p. 129–142, 2008.

QUALLS, N.; LEVITT, A.; KANADE, N.; WRIGHT-JEGEDE, N.; DOPSON, S.; BIGGERSTAFF, M.; REED, C.; UZICANIN, A. Community Mitigation Guidelines to Prevent Pandemic Influenza — United States, 2017. MMWR Recomm Rep. v. 66, n. RR-1, p. 1–34, 2017. Disponível em: <doi: http://dx.doi.org/10.15585/mmwr.rr6601a1.

REDE COVIDA. Ciência, Informação e Solidariedade. Boletim CoVida – Pandemia de COVID-19. 3 ed. Fundação Oswaldo Cruz da Bahia e Universidade Federal da Bahia, 2020. Disponível em:<http://covid19br.org/2020/04/20/rede-covida-alerta-para-papeldos-testes-e-desigualdades-na-pandemia/.

Severe Outcomes Among Patients with Coronavirus Disease 2019 (COVID-19) — United States. MMWR Morb Mortal Wkly Rep. v. 69, p. 343-346, 2020. Disponível em: <doi: http://dx.doi.org/10.15585/mmwr.mm6912e2external icon>

SHORT, K. R.; KEDZIERSKA, K.; SANDT, C. E. van de. Back to the Future: Lessons Learned From the 1918 Influenza Pandemic. Front Cell Infect Microbiol., v. 8, p. 119. Disponível em: <doi: 10.3389/fcimb.2018.00343>.

YAO, X.; YE, F.; ZHANG, M. et al. In Vitro Antiviral Activity and Projection of Optimized Dosing Design of Hydroxychloroquine for the Treatment of Severe Acute Respiratory Syndrome Coronavirus 2 (SARS-CoV-2). Clinical Infectious Diseases: An Official Publication of the Infectious Diseases Society of America. 2020. Disponível em: <doi:10.1093/cid/ciaa237. ISSN 1537-6591. PMID 32150618>.

WALKER, P. G. T.; et al. The Global Impact of COVID-19 and Strategies for Mitigation and Suppression. Disponível em: <https://www.imperial.ac.uk/media/imperialcollege/medicine/sph/ide/gidafellowships/Imperial-College-COVID19-Global-Impact-26-03-2020v2.pdf>.

Barreiras, 07 de maio de 2020

Grupo de Trabalho para Gerenciamento do COVID-19 da UFOB
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Bahia – Barreiras
Universidade do Estado da Bahia – Campus IX – Barreiras