Com a proposta de imersão em um universo ficcional que remonta o cenário do Sertão baiano no fim do século XIX, o game Árida conta a história da jovem Cícera que, acompanhada pelo seu bode de estimação, busca superar dramas pessoais e as dificuldades impostas pela dura realidade sertaneja.
O projeto inovador é capitaneado pela Aoca Game Lab, empresa incubada pelo Centro de Pesquisa e Desenvolvimento Comunidades Virtuais da UNEB, e impressionou a comissão avaliadora da Agência Nacional do Cinema (Ancine), que aprovou a aplicação de R$ 250 mil, via edital, para investimento no game.
“Foi intimidador quando precisamos apresentar a proposta presencialmente. Fomos avaliados por pessoas de grande representatividade nas áreas de audiovisual e games. Mas estávamos seguros e a experiência foi ótima, vamos utilizar esses aprendizados nas novas oportunidades que esperamos conquistar”, avalia Filipe Pereira, CEO da Aoca e idealizador do jogo.
De acordo com o jovem empreendedor, que é também professor da Graduação Tecnológica em Jogos Digitais da UNEB, Árida consiste em um projeto de franquia e contará com quatro edições do game. O montante arrecadado com o edital será investido no segundo número.
“A gente já conseguiu financiamento da Secult (Secretaria estadual de Cultura da Bahia) para distribuição gratuita do primeiro jogo. No segundo, a Ancine entrará como sócia, então, vamos poder pensar dentro de uma lógica mais comercial e promover mudanças estruturais no produto”, explica Filipe.
“Árida”
A primeira parte de Árida está prevista para ser lançada até o mês de julho, por meio da plataforma de jogos digitais Steam. Atualmente, o jogo está atualmente na fase beta, em que os desenvolvedores trabalham na finalização gráfica, em aprimoramentos técnicos e testes.
Com influências de games de sucesso como The Legend of Zelda e The Flame in the Flood, a edição apresentará inicialmente a protagonista Cícera, uma jovem que aos 13 anos convive com o seu avô Tião, um ex-vaqueiro idoso, e o seu bode de estimação.
De acordo com Filipe, a Guerra de Canudos consiste em um subtópico do projeto, e deve ser retratada durante a história que será vivenciada pelos gamers nas quatro partes do jogo.
A proposta original de Árida prevê a máxima ampliação possível do universo do game, a partir de uma perspectiva transmídia, com a possibilidade de elaboração de revistas em quadrinhos, animações audiovisuais e outras produções sobre os personagens e o próprio cenário do Sertão da Bahia retratado.
“No momento só temos fôlego para fazer os jogos, o que já é uma atividade extremamente complexa. Mas já está em nosso planejamento alinhar outras produções, especialmente agora, com a parceria da Ancine, o que aumenta as nossas possibilidades de trabalhar com audiovisual”, projeta Filipe.
Intercâmbio de experiências
A Aoca Game Lab conta com colaboração de sete desenvolvedores: dois artistas, dois designers, dois programadores e um músico. Desses, apenas o último não desenvolve os seus trabalhos presencialmente na sede do Centro de Pesquisa e Desenvolvimento Comunidades Virtuais, no Campus I da UNEB, em Salvador.
Para o CEO da empresa, ter a iniciativa incubada pela universidade vai além do suporte em infraestrutura: “Estar aqui representa um diferencial absurdo. A história do desenvolvimento de jogos no estado da Bahia está no Comunidades Virtuais, então, isso nos influencia muito na dinâmica de elaboração criativa dos nossos projetos”, destacou.
Coordenadora do centro, a professora Lynn Alves garante que se sente contemplada pelo sucesso que o jogo tem feito, mesmo antes do seu lançamento, e avalia que a conquista no edital é “um marco para a Bahia, para a UNEB, que é parceira no processo, e para o Comunidades Virtuais”.
“Acho que esse é o papel da universidade: dialogar com quem quer fazer a diferença, que tem potencial e que quer estar aqui dentro, fortalecendo esse processo de formação, de mercado e de produção do conhecimento”, ressaltou a docente.
Suporte de peso
Para a elaboração do game, a Aoca promoveu outras trocas com a comunidade acadêmica da UNEB, a exemplo da parceria que foi estabelecida com o Centro de Estudos Euclydes da Cunha (Ceec).
“Não posso deixar de citar o professor Manoel Neto, coordenador do Ceec. Ele é um dos maiores especialistas no tema e todos os feedbacks que ele nos deu, com certeza, atribuíram um nível de profundidade absurdo ao projeto. Senti no olho dele a felicidade de ver algo interativo, como um game, sendo produzido sobre esse tema”, registra Filipe, que é também graduado em História.
Além de ofertar a primeira graduação tecnológica em Jogos Digitais do estado da Bahia, a UNEB conta também com um curso de Especialização em Game Design e já produziu, por meio do Comunidades Virtuais, 12 jogos digitais educativos, que objetivam facilitar o processo de aprendizagem.
Imagens: Divulgação