“Já pintou verão. Calor no coração. A festa vai começar”. O clima carnavalesco já tomou a Bahia. Festejos de pré-Carnaval arrastam multidões na capital e no interior do estado. E os foliões já estão com suas programações a todo o vapor.
O cenário tem sido o mesmo: muita gente, música e paquera. Mas, até para aqueles que desejam devotamente que “essa fantasia fosse eterna”, uma preocupação inesperada surge para a folia em 2020: o novo Coronavírus (SARS–CoV–2).
Nas ruas, o clima é de incerteza. Ainda sem muitas informações sobre o novo problema de saúde internacional, tem os que se apegam à fé e prometem não abandonar a festa.
Esse é o caso da estudante da UNEB Larissa Almeida, que acredita que o temor não deve interferir intensamente na folia. “A gente já teve períodos assim, de ficar com medo de um surto, como com o H1N1. Eu vou para o Carnaval e espero que saia de lá ilesa. Mas, que dá uma tensão, dá”, afirmou a discente.
Tem também os que prometem não pôr os pés na rua. Como será para a assistente administrativa Jamile Oliveira, que já prepara uma programação mais caseira para o período.
“Acho perigoso. Acredito que nesse período tem algum risco, porque tem muito turista aqui. Eu vou ficar em casa, mas, não tenho nada contra o Carnaval, não”, salientou a jovem.
Os primeiros casos de contaminação pelo Coronavírus de 2019 foram registrados na cidade de Wuhan, na China, em dezembro. Hoje, já são mais de 70 mil casos registrados em 26 países da Ásia, Europa, África e Oceania.
E agora?
Que as ruas cheias de gente e longas horas de festa criam um ambiente propício para a transmissão de doenças infectocontagiosas, ninguém duvida. Mas, será que há riscos de um surto dentro da folia? Há motivos para pânico?
Para responder a essas e a outras perguntas, o infectologista e professor do curso de Medicina da UNEB, Claudilson Bastos, aceitou o convite da Assessoria de Comunicação (Ascom) da universidade e concedeu entrevista sobre o tema.
Para o pesquisador, não há motivo para pânico, “mas, há uma situação de precaução, de cuidados e de atenção”, sobretudo, quando o assunto é a maior festa de rua de todo o planeta.
Ele destaca que não há registro de diagnósticos positivos em território nacional e que medidas de vigilância epidemiológica estão sendo promovidas em aeroportos e em outros locais de grande circulação de pessoas.
Em Salvador, por exemplo, a equipe do aeroporto internacional já apresentou, em parceria com a Anvisa, um plano de contingência para o novo Coronavírus. Os passageiros são orientados periodicamente por mensagens sonoras e todos têm acesso a álcool em gel e a informativos.
“É impossível ter o controle de 100%. Teria que ser um policiamento das pessoas. Mas, essas ações são cientificamente comprovadas para o controle epidemiológico em qualquer governo. Então, isso tem uma eficácia grande”, explica o professor.
Ainda segundo o epidemiologista, o álcool em gel merece destacada menção como dica para os dias de Carnaval: “O uso dele é muito importante por ser um meio seguro e eficaz para situações de risco, como após cumprimentar pessoas. Mas, ele não é indicado depois do banheiro. Quando tem sujidade, é indicado água e sabão. A higienização das mãos é o ponto chave, e o melhor remédio é a educação”.
Riscos na folia
Em todo o mundo, a doença causada pelo novo Coronavírus, nomeada Covid-19, pela Organização Mundial de Saúde (OMS), já vitimou aproximadamente 1,7 mil pessoas.
Segundo o professor Claudilson Bastos, para evitar o contágio e a proliferação, os cuidados devem ser o mesmos para se precaver de uma gripe: não espirrar nas mãos, usar periodicamente álcool em gel e evitar grande aproximação física com pessoas que manifestem sintomas gripais.
Ao ampliar as orientações, o pesquisador alerta os foliões também para diversos riscos à saúde:
– Mononucleose Infecciosa (Vírus do Beijo)
– Herpes Simples
– Hepatite A
– Meningite
– Contaminação alimentar por Salmonella ou Shigella (infecções bacterianas diarreicas)
– HIV, Sífilis, Gonorréia – ISTs (infecções sexualmente transmissíveis)
Outra dica é que as pessoas avaliem criteriosamente o local onde irão se alimentar, sobretudo, durante o Carnaval. “Os alimentos, se mal preparados ou crus, podem apresentar diversos riscos no consumo. Não do Coronavírus em si, mas de outras infecções, sejam elas virais ou bacterianas”, salientou o infectologista, ressaltando que todos podem curtir, “mas, com essas limitações e exigências”.
Novo Coronavírus
Coronavírus é uma família de vírus que causam infecções respiratórias. O novo agente do Coronavírus (SARS-CoV-2) foi descoberto em 31 de dezembro de 2019, após casos registrados na China.
Os principais sintomas são febre, tosse, dificuldade em respirar e falta de ar. Em casos mais graves, há ainda registros de pneumonia, insuficiência renal e síndrome respiratória aguda grave.
O período de incubação do vírus varia de 1 a 14 dias. Ou seja, os sintomas devem ser manifestados por indivíduos infectados dentro desse prazo. A transmissão ocorre de pessoa para pessoa.
Os coronavírus humanos foram isolados pela primeira vez em 1937. No entanto, foi em 1965 que o vírus foi descrito dessa forma, em virtude do seu perfil microscópico, que se assemelha com uma coroa.
A iniciativa institucional de debate e divulgação sobre o novo Coronavírus é coordenada pela Ascom, pela Pró-Reitoria de Extensão (Proex) e pelo Departamento de Ciências da Vida (DCV) do Campus I da UNEB, em Salvador.
Veja também a matéria da TV UNEB sobre o Coronavírus
Foto (home): Fernando Vivas/GOVBA