Servidores, estudantes e pesquisadores dialogaram sobre a música sacra negra e participaram ainda de atividades culturais
A memória e a arte afro-brasileiras estiveram no centro dos debates promovidos pela comunidade acadêmica da UNEB durante o II Ciclo de Debates Memória, Música e Devoção: Omolu, o rei da Terra.
Julice Oliveira: “Procuramos valorizar os nossos intelectuais negros”
Conferências, sessões de comunicação, palestras e apresentações culturais foram realizadas gratuitamente, entre os dias 21 e 23 de agosto, no Campus I da instituição. O evento integrou a programação oficial do Centenário de Mestre Didi.
“Estamos discutindo, sobretudo, a música sacra e trazemos o Coro Oyá Igbalé para apresentar essa tradição. Homenagear o Mestre Didi é uma honra, só temos a nos orgulhar. Procuramos perpetuar a difusão do conhecimento com responsabilidade e valorizar os nossos intelectuais negros”, destacou a docente Julice Oliveira, coordenadora do ciclo.
Artista plástico, escritor e líder espiritual. O baiano Deoscóredes Maximiliano dos Santos, popularmente conhecido como Mestre Didi (1917-2013), deixou vasta produção artística inspirada nos objetos de cultos ligados à tradição nagô. Suas esculturas e livros lhe renderam reconhecimento internacional.
A secretária estadual de Promoção da Igualdade Racial (Sepromi), Fabya Reis, esteve presente na mesa de abertura do evento e destacou a importância de reforçar, nas instâncias acadêmicas, o debate sobre a preservação da cultura e valorização dos legados do povo negro ao longo da história: “A iniciativa é extremamente importante, inclusive no resgate da memória do Mestre Didi”.
Gildeci Leite: “É importante se apropriar e se reapropriar de todas as obras de Mestre Didi”
O homenageado também foi reverenciado pelo assessor especial de Projetos Interinstitucionais para a Difusão da Cultura (Apidic) da UNEB, Gildeci Leite, que participa da coordenação das celebrações oficiais em homenagem ao centenário.
“Ele não foi um homem que teve curso superior, mas foi um excelente monografista, contista e artista plástico. É importante se apropriar e se reapropriar dos escritos e de todas as obras de Mestre Didi para compreender a cultura afro-brasileira e a afro-baianidade”, salientou o gestor, que ainda ministrou a conferência “Edison Carneiro e o Samba”, na tarde da última terça-feira (22).
Pró-reitor de Ações Afirmativas da universidade, Wilson Mattos parabenizou a organização da iniciativa pela promoção da cultura, da arte e da memória afro-brasileira. “Ações Afirmativas e Umbutu” foi o título da atividade coordenada por ele também no segundo dia de evento.
A segunda edição do ciclo foi promovida pelo Grupo de Estudos Estética e Contracultura (GEEC) e pelo Grupo Estudos e Pesquisa da Memória Afro-Baiana (GEPMAB), ambos do Departamento de Educação (DEDC) do Campus I da UNEB, na capital.
Memória Afro-brasileira
A coordenadora do Grupo Estudos e Pesquisa da Memória Afro-Baiana (GEPMAB), Cecília Soares ministrou a primeira conferência do evento, que teve como tema “Memória Afro-brasileira e História: Obaluaê, o Rei da Terra”.
Cecília Soares: “desmitificar a negação da história de negras e negros”
“A memória em comunidades terreiros assume fundamental importância na rememoração de acontecimentos que elevam a alto estima do grupo. Ela registra celebrações e costumes, mas, também processos de transições para mudanças das tradições”, explicou a pesquisadora.
Ainda de acordo com Cecília, as identidades religiosas podem ser reconstruídas nesses locais, a partir da memória referenciada. Assim, reforçando o pertencimento do negro em sua totalidade.
“Dessa forma, a memória tem um lugar de extrema importância ao ser responsável pela sua continuidade e, de forma paradoxal, desmitificar a negação da história de negras e negros na formação da sociedade baiana, em particular”, salientou a pesquisadora.
O evento contou com o apoio da Proaf, das Pró-Reitorias de Extensão (Proex) e de Pesquisa e Ensino Pós-Graduação (PPG), do DEDC, do Cepaia, da APIDIC, do Centro de Pesquisa em Educação e Desenvolvimento Regional (CPEDR), da Secretaria Especial de Articulação Interinstitucional (Seai), todos da UNEB, e da Irmandade Beneficente e Religiosa de Ojés, Ogãs e Tatas (Siobá).
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