O estudante Pedro do Rosário, do curso de Sistemas de Informação do Campus I da UNEB, em Salvador, apresentou o Projeto Hermes: identificação de ondas para análise descritiva e preditiva do quadro epidemiológico da Covid-19, na última segunda-feira (23).
A iniciativa recebeu nota máxima e menção honrosa da banca examinadora. Esse é o trabalho de conclusão de curso (TCC) do jovem de 27 anos, desenvolvido sob orientação e coorientação dos professores Leandro Coelho e Diego Frias, do Grupo de Pesquisa em Predições Inteligentes em Métodos Aplicados a Séries Temporais (Pimat), da instituição.
O método é inovador e permite a definição de ondas epidemiológicas e de predição da evolução das curvas em diferentes países do mundo. O trabalho é capaz de permitir uma análise padronizada e uniforme, por parte dos cientistas que estudam as epidemias, e desponta para se configurar em um importante instrumento para gestores públicos do Bahia e do Brasil e, também, para pesquisadores da área da Saúde de todo o mundo.
Veja íntegra da entrevista com o jovem pesquisador sobre o projeto:
Núcleo de Jornalismo (NJ) – Para um leigo, como você explicaria o Projeto Hermes e os seus objetivos/resultados conquistados?
Pedro do Rosário (PR) – O Projeto Hermes é um modelo computacional capaz de identificar múltiplas ondas epidemiológicas. Bem como, projetar qual será o cenário futuro da pandemia, para uma determinada região. Por exemplo, o modelo é capaz de informar por quantas ondas o Brasil já passou, e qual é a estimativa do numero total de infectados nos próximos 20 dias, caso as condições permaneçam as mesmas. Para fins práticos, isso poderia ser utilizado pra isso poderia ser utilizado para auxiliar os governos na tomada de decisão sobre as flexibilizações ou outras medidas de enfrentamento à pandemia.
NJ – Desde quando você possui vínculos com o Grupo de Pesquisa em Predições Inteligentes em Métodos Aplicados a Séries Temporais (Pimat)?
PR – Sou aluno do curso de Sistemas de Informação e estou no último semestre. Entrei no Pimat em 2017. Eu faço parte do grupo, porém, desde 2018 não sou mais bolsista, porque comecei a trabalhar profissionalmente como desenvolvedor de software.
NJ – Quais trabalhos você já desenvolveu pelo PIMAT?
PR – Apresentei na Jornada de Iniciação Científica de 2018 um estudo sobre o uso de padrões harmônicos para a predição de comportamento de series temporais do mercado Forex. Bem como auxiliava pesquisas de outros colegas de grupo, como o Projeto Cerberus, do Augusto Lima, e os Identificadores de Reversão, do Fernando Maia.
NJ – Você já tinha interesse por essa conexão com a área da Saúde?
PR – Na verdade, minha motivação ao entrar no Grupo Pimat foi um interesse em me aprofundar em modelos estatísticos e análise de séries temporais de forma geral. Tanto o mercado Forex, quando a área epidemiológica, foram objetos de estudo, pois a todo o momento estamos lidando com séries temporais nesses dois contextos. As soluções encontradas poderiam ser aplicadas em ambos, para muitos casos.
NJ – Este foi o seu primeiro projeto na área de Saúde?
PR – No que diz respeito à pesquisa científica, sim, este foi o meu primeiro projeto na área de Saúde. Profissionalmente, já trabalhei em projetos da área da saúde, porém, com um contexto educacional.
NJ – São muitos os lutos que temos enfrentado, sobretudo, pelas mortes, mas também os lutos diários, do que não é possível como antes. Você possui alguma motivação pessoal que o levou a esse projeto?
PR – Graças a Deus, não perdi nenhuma parente para a Covid-19 durante esta pandemia. Quando o professor Leandro me apresentou a proposta do projeto, me interessaram os desafios que enfrentaríamos, bem como o impacto que o projeto poderia gerar. Dessa forma, eu julguei que seria uma excelente forma de encerrar este meu ciclo de graduação na UNEB.
NJ – Como foi esse convite? Quando ele ocorreu?
PR – O convite ocorreu em meados de novembro de 2020, quando eu estava em busca de possíveis projetos para realizar como trabalho de conclusão de curso (TCC). Liguei para o professor Leandro, pois já trabalhávamos juntos no PIMAT, desenvolvendo pesquisas sobre o mercado Forex, porém, eu buscava um projeto em outra área. Foi quando me foi apresentado o projeto, os desafios e os objetivos, e quando Leandro se mostrou interessado em ser meu orientador nesta pesquisa. Desse dia em diante, realizamos revisões bibliográficas, definimos o escopo do projeto, realizamos provas de conceito, construímos o modelo, validamos, coletamos os resultados e formatamos a sua apresentação.
NJ – O Projeto Hermes possui integração com outros do Pimat? Quem colaborou com a sua pesquisa?
PR – O projeto não possui necessariamente integração com nenhum sistema desenvolvido anteriormente pelo Pimat, porém, extraí muito dos conhecimentos e métodos desenvolvidos pelo grupo em projetos que tinham como objeto de estudo o mercado financeiro/Forex, e os aplicamos na área da saúde. Posso dizer que todo o grupo participou, uma vez que o projeto era discutido nas reuniões com todos. Do grupo, imagino que destacam-se Edson Mascarenhas Santos, físico idealizador do tema e participante ativo do projeto, Leandro Coelho e Diego Frias como orientador e coorientador, respectivamente, e outros pesquisadores do DCV.
NJ – Durante o período de execução do projeto, o nosso país viveu seus meses mais mortais e de maiores taxas de contaminação. Como foi lidar com a inovação neste período e também com as sinalizações catastróficas que o próprio projeto provavelmente apresentou?
PR – Frente a todas as notícias veiculadas, bem como a situação catastrófica que o país se encontrava, e que foram reveladas também pelo modelo no decorrer da pesquisa, foi possível enxergar o potencial impacto da pesquisa que temos em mãos, o que certamente me motivou durante todo o andamento do projeto.
NJ – É perceptível que foi bem criterioso para a escolha do projeto. O que sente hoje, ao perceber que o seu trabalho pode auxiliar o país no enfrentamento de uma das maiores crises da sua história?
PR – O primeiro sentimento é de orgulho. Os resultados obtidos denotaram um grande potencial da ferramenta, o que fez valer todo o esforço empregado na pesquisa. Em um segundo momento, existe também os desafios futuros, as melhorias no sistema, a necessidade de mais pessoas colaborando no projeto. Acredito que protagonizamos a etapa de iniciação, para validação da eficácia do modelo. Os próximos passos devem ser aplicados a este modelo, dentro de um sistema robusto e democratizando os resultados obtidos.
NJ – O desenvolvimento de um projeto que pode salvar vidas impacta na dimensão social da sua formação e do seu trabalho?
PR – Com certeza impacta! Prever um cenário futuro pessimista com antecedência e conseguir agir a tempo é, necessariamente, evitar a perda de vidas no futuro. Isso me alegra, sobretudo enquanto estudante de universidade pública, da UNEB, pelo seu viés de apoio social. Sinto que devolvi o suporte ofertado a mim, pela universidade, na forma de uma contribuição para a sociedade como um todo.
NJ – Você conversa sobre as suas pesquisas com familiares e amigos? Recebe apoio? Alerta o pessoal sobre a pandemia?
PR – Conversamos bastante sobre o cenário da pandemia e o porquê de precisarmos estar alertas. Converso também sobre a minha pesquisa, porém, devido à divergência das nossas áreas de atuação, não entro nos detalhes da pesquisa. Porém, converso muito sobre o potencial impacto social que posso estar gerando com a minha pesquisa.
NJ – O que significa este momento de apresentação para você?
PR – A finalização de um ciclo de 5 anos, a concretização de promessas que fiz a pessoas que não se encontram mais conosco de que iria me formar, a mim mesmo de que iria me formar semestralizado (sem repetir nenhuma disciplina), o início de uma nova fase profissional… Pra ser honesto, muita coisa, sinto que a minha formação é o evento mais importante que eu havia programado pra mim este ano.
NJ – Quais os próximos passos?
PR – Os próximos passos envolvem refinar o modelo, aumentar o time de desenvolvimento, buscar um possível subsídio governamental ao projeto, permanecer atuando no grupo, abrir este projeto para que mais alunos do curso de Sistemas de Informação possam contribuir e melhorar (até mesmo como primeira experiência em um projeto real), bem como abrir o projeto para que a comunidade de tecnologia de todo o mundo possa também realizar contribuições.
NJ – Algum registro após essa aprovação? Parabéns!
PR – Eu esperava que o nosso projeto fosse ser elogiado, dado o impacto que ele tem, porém, o feedback obtido superou todas as expectativas. Recebi convite para mestrado, tirei a nota máxima, com o adicional de menções honrosas. Só tenho a agradecer à UNEB por todo o apoio, aos meus orientadores Leandro Coelho e Diego Frias, por todo o suporte, e por terem confiado a mim este projeto. Meus agradecimentos também vão à professora Débora Rego, que participou ativamente de todo este processo, corrigindo principalmente o material escrito, adequando todo o projeto às normas requeridas em um trabalho acadêmico.