Quantas Helens ainda rolarão ao chão? (Douglas de Almeida)

Douglas de Almeida*
Poeta e estudante do curso de Pedagogia da UNEB (Salvador)

Uma mensagem que aparece no celular. – Obrigado meu bem!
Um vestido mais curto ou um decote que chama a atenção!
Um diploma que sinaliza, com alegria, uma ascensão!
Um dia em que, cansada, a um apelo sexual, diz. – Agora não!
Um motivo… e mais outro! A mão de encontro ao rosto,
Um chute bem abaixo do umbigo, desferido com precisão,
O nylon, a corda, o cordão: reminiscências da escravidão!
A faca, na mão a penetrar… a cortar algo que já está cortado!

Ela me deixou! O que dirão meus amigos? Ah isso não!
O que direi quando descobrirem que não sou mais o chefão!
Ela sabe mais do que eu! Isso nunca! Isso nunca! Isso não!
Não importa o motivo! O egoísmo é sempre superlativo!
A força é apenas um sinal de fraqueza, covardia, possessão!
Quantas Helens rolarão, nuas, o pescoço varado, pelo chão?
Marias, Cristinas, Joanas, Sílvias, Jaquelines, onde estão?

Um desespero me invade, um tremor toma conta do meu corpo.
Não quero mais estatísticas, entrevistas, depoimentos,
Fotos nas redes sociais. Denúncias nos jornais. Dores, gritos, ais!
Meu olhar se perde em um imaginário e infindável horizonte.
Basta de justificar! A boneca para Maria e o carro para João.
Já passou o tempo do lamento! Queremos justiça, punição!
Este (será um poema?) é meu grito de dor! Minha indignação!

 

*Natural da cidade baiana de Itabuna, 61 anos, tem poemas publicados em revistas, livros e antologias. Foi editor da revista “Sem Perfil” e organizador da mostra “La nueva generación de la poesía brasileña”, em Buenos Aires. Inaugurou o Selo Editorial Castro Alves, da Câmara Municipal de Salvador, em 2015, com o livro “Movimento Poetas na Praça: entre a transgressão e a tradição”.

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