Curso da UNEB prepara participantes para trabalhar com audiodescrição

Os cursistas participaram de atividades teóricas e práticas. Trabalharam com desenhos, pinturas e produtos audiovisuais

Atualmente, a cegueira afeta 36 milhões de pessoas em todo o mundo. A projeção é de que, até 2050, o número cresça para 115 milhões. Esses são alguns dos dados apresentados pelo estudo publicado neste mês de agosto pela revista médica The Lancet.

Atento ao crescimento global de deficientes visuais e à ampliação da demanda por recursos de acessibilidade, o Núcleo de Educação Especial (Nede) da UNEB promoveu, entre os dias 31 de julho e 4 de agosto, o Curso de Introdução à Audiodescrição.

A iniciativa teve como objetivo divulgar as possibilidades e potencialidades do recurso comunicacional, que foi desenvolvido para dar acesso a produtos visuais ou audiovisuais para qualquer indivíduo e, sobretudo, para aqueles afetados pela cegueira ou pela baixa visão.

Sandra Regina Rosa: “a demanda é grande e será ainda maior”

De acordo com a coordenadora do Nede e do curso, Sandra Regina Rosa, a UNEB conta com 33 estudantes matriculados com algum tipo de deficiência visual. “Cada vez mais, os estudantes com deficiência estão chegando na universidade. Então, a demanda é grande e será ainda maior. Isso nos mostra o quão importante é formar mais pessoas para trabalhar em ações voltadas à acessibilidade”, salientou a docente.

Foram ofertadas inicialmente 15 vagas para esta edição, que foi a quarta promovida na universidade. Entretanto, em virtude das 35 inscrições, as oportunidades foram ampliadas para 19 participantes.

“Neste curso, fazemos questão de que todos passem pelas etapas necessárias para se fazer uma audiodescrição, mesmo que de forma inicial. São elas: pesquisa, construção do roteiro, revisão por um audiodescritor consultor (deficiente visual), gravação e edição”, explicou a pesquisadora.

Laís Lima Penha: a audiodescrição “é um mercado que está em expansão”

Os cursistas participaram de atividades teóricas e práticas. Trabalharam com desenhos, pinturas e produtos audiovisuais, sempre em busca da tradução das imagens em palavras.

Ampliação de campo

Em 2014, a Agência Nacional do Cinema (Ancine) publicou instrução normativa que determina que todos “os projetos de produção audiovisual financiados com recursos públicos federais geridos pela Ancine deverão contemplar nos seus orçamentos serviços de legendagem, legendagem descritiva, audiodescrição e LIBRAS – Língua Brasileira de Sinais”.

Além de iniciativas como essa, o crescimento de pessoas com algum tipo de deficiência visual tem estimulado a ampliação do campo no mercado de trabalho para profissionais com qualificação em recursos de acessibilidade.

Essa foi uma das motivações de Laís Lima Penha, graduada em Letras Vernáculas e Língua Estrangeira Moderna (Espanhol) pela Ufba, para participar do curso. “Esse é um campo que ainda tem pouca gente capacitada, é um mercado que está em expansão”, avaliou.

“Tive uma experiência maravilhosa. Pena que o tempo foi curto. Mas, mesmo sendo um curso introdutório, ele nos municiou para poder pensar sobre o produto, com partes teóricas e práticas. Nos deparamos com os problemas e, na prática, chegamos às soluções de forma colaborativa”, destacou Laís.

Paulo Ricardo Cerqueira: “o curso trouxe outras maneiras de ver o recurso da audiodescrição”

A participante frisou também  que tem notado que corporações estão se aplicando para ofertar recursos como a audiodescrição para os seus clientes, a exemplo da gigante dos serviços de streaming Netflix.

A proposta metodológica do curso foi aprovada por Paulo Ricardo Cerqueira, colaborador do Núcleo de Apoio à Inclusão do Aluno com Necessidades Educacionais Especiais (Nape) da Ufba.

“Já tenho um breve conhecimento sobre audiodescrição, por ter contato com deficientes visuais no Nape, mas, o curso trouxe outras maneiras de ver o recurso. As atividades foram muito proveitosas, principalmente a parte de edição de vídeo, que eu não tinha nenhum contato”, salientou o participante.

Audiodescritor consultor

Para que todas as etapas da audiodescrição sejam cumpridas de forma adequada, existe a necessidade da participação de um deficiente visual como audiodescritor consultor. Ele deve revisar o roteiro e garantir que o produto irá comunicar, de forma efetiva para o espectador, o que se pretende.

Josevan Barbosa Fernandes: “Além de poder trabalhar na produção, sou também usuário”

Com a proposta de investir nessa carreira, Josevan Barbosa Fernandes participou do curso ofertado pelo Nede. Diagnosticado com retinose pigmentar, doença que causa a degeneração da retina, o professor tem baixa visão desde os 14 anos de idade.

Isso não impediu que ele investisse na conclusão dos seus estudos nos ensinos fundamental, médio e superior. Atualmente, já possui duas especializações e trabalha como docente de Língua Portuguesa no Colégio Estadual Vitor Soares, no bairro da Ribeira, em Salvador.

“O curso foi muito enriquecedor, nos passou muitas informações importantes que até eu, apesar de ser cego e usuário, não sabia. A prática só não adianta, precisamos também da teoria para nos desenvolvermos na audiodescrição”, ressaltou Josevan.

Após as experiências vivenciadas em uma semana de curso, o professor já se colocou à disposição do Nede para auxiliar como audiodescritor consultor: “Além de poder trabalhar na produção, sou também usuário. Posso ajudar de duas formas”.

O curso é ofertado gratuitamente e para participar basta possuir Ensino Médio completo e repertório ampliado da língua portuguesa. Nova turma deve ser ofertada no primeiro semestre de 2018.

Fotos: Cindi Rios/Ascom

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