Entrevista concedida por Tânia Hetkowisk, pró-reitora de Pesquisa e Ensino de Pós-Graduação (PPG) da UNEB, à Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação (Anped).
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Como avalia a experiência dos mestrados profissionais em educação no Brasil?
Tânia Hetkowisk – A criação e funcionamento do primeiro Programa de Pós-Graduação em Educação, modalidade Profissional, foi em 2009 e após quase uma década estão em pleno funcionamento 44 programas distribuídos nas cinco regiões do Brasil.
As experiências nessa modalidade permitem antever a intensidade das relações entre Universidade e Educação Básica, explorando temas relativos à gestão educacional, sistemas de ensino, ensino e aprendizagem, tecnologias na educação, curricularização, políticas públicas, inovações pedagógicas, tecnologias educacionais entre outros.
Avaliamos esta experiência, ainda jovem, através de elementos positivos no que se refere a formação de profissionais da educação, a produção de trabalhos que permitem a inserção e impacto social, a exploração da pesquisa aplicada, a imersão nas escolas e em outros espaços educacionais, o efetivo compromisso da universidade com a escola e, as possibilidades de trabalho colaborativo entre alunos e professores de diferentes níveis de ensino.
Quais os principais desafios para a consolidação dos mestrados profissionais?
TH – Os desafios encontrados desde a criação da Portaria 17/2009 estão centrados no desconhecimento pelas instâncias da CAPES e do CTC acerca desta modalidade e de suas singularidades, uma vez que para recomendar, acompanhar e avaliar as Comissões, deveriam vivenciar o modus operandi desses mestrados profissionais. Isso poderá refletir negativamente nas avaliações dos mestrados profissionais desta área.
Outro fator que interfere na consolidação é a falta de recursos financeiros (bolsas ou de apoio a eventos, publicações, viagens entre outros), uma vez que a área da Educação atende as demandas das redes públicas, as quais se deparam com os mesmos problemas orçamentários das Universidades Públicas, espaços onde estão centrados 90% dos Mestrados Profissionais na em Educação.
Como avalia a perspectiva e os desafios para doutorados em educação no país e doutorados profissionais em educação?
TH – Primeiramente não temos experiências dessa modalidade em nível de Doutorado no Brasil e, em seguida, questionamos acerca da Portaria 389/2017, que revoga a Portaria 17/2009 e esvazia as orientações que foram construídas nesses últimos anos, especialmente na área da Educação. Assim, consideramos que o principal desafio é adequação da normatização desta modalidade, a qual não esteja centrada nos arranjos produtivos, na competitividade, produtividade, na proximidade das universidades com empresas e, na criação e geração de produtos para o setor mercadológico e industrial.
Precisamos superar esse discurso de que a os Programas stricto sensu, modalidade profissional, estão propensos à formação de profissionais das áreas de exatas, engenharias, aplicadas ou correlatas. Esta modalidade somente tem sentido, dentro das instancias da CAPES, se atender à formação de profissionais de diferentes áreas e salvaguardar suas especificidades, suas identidades e seus estatutos, neste caso específico, a área da Educação.
Quais seriam as principais questões a serem enfrentadas na organização de doutorados profissionais?
TH – São inúmeras questões que perpassam nossas experiências e nossas preocupações: a CAPES e suas instâncias reguladoras não deveria estar dialogando com a sociedade à construção de parâmetros para o doutorado nesta modalidade? Como serão as orientações da nova Portaria que possam atendar todas as áreas? A Portaria 389/2017 enfatiza o setor produtivo, como as áreas de Humanidades e Educação serão valorizadas? Os mestrados profissionais, de várias áreas, construíram critérios e indicadores à consolidação de suas propostas, essas experiências serão consideradas nessa nova Portaria? Como serão os formatos de Trabalho de Conclusão de Curso? O mestrado tem uma perspectiva metodológica e epistêmica, como será a orientação à ampliação em nível de doutorado? Um doutorado tem a duração de 04 anos, como um estudante poderá se manter caso a CAPES e o Programa se consolidar sem recursos financeiros? Estas e inúmeras outras questões perpassam as preocupações dos coordenadores, docentes e discentes que fazem o cotidiano desta modalidade stricto sensu na área da Educação em todo Brasil.
* Fonte: site da Anped