O futebol não é apenas um jogo, e o esporte vai muito além das demarcações feitas pelas quatro linhas no campo. Prova disso é a presença do Núcleo de Ações Afirmativas do Esporte Clube Bahia no Campus I da UNEB, em Salvador, na manhã de hoje (24).
A visita foi motivada pelo interesse da Unidade Acadêmica de Educação à Distância (Unead) da universidade em receber a oficina “Igualdade Racial e Racismo Estrutural”, ação do projeto Dedo na Ferida, da agremiação baiana.
A atividade foi ministrada pelo pesquisador da Universidade Metodista de São Paulo (UMESP), Edson Cardoso, para profissionais da Unead e convidados da instituição.
“Acho que o Bahia se coloca para além do futebol, e se preocupa em como as pessoas vivem em sociedade e encontram oportunidades. Há um conjunto de impossibilidades que fazem o clube sinalizar disposição para atuar no sentido de valores civilizatórios e antirracistas”, avaliou o docente.
Em sua apresentação, Edson transitou pelas obras de Monteiro Lobato, João Ubaldo Ribeiro e Lima Barreto; analisou abordagens sobre o genocídio de pessoas negras brasileiras na literatura; e levantou temas como a inserção da jovem personagem Milena, após 50 anos, na Turma da Mônica.
As obras de pesquisadores como Erwing Goffman e Muniz Sodré abriram ainda espaço para debates sobre conceitos como diversidade, representatividade, pluralidade, isonomia e isotopia.
“O Bahia, ao desenvolver um programa como esse, quer ser solidário e contribuir com dimensões que são importantes para a vida de muitos torcedores. Não devemos estar apenas a fim da mudança de representação ou consciência, precisamos buscar a efetiva transformação social”, ressaltou Edson.
Paixão e transformação social
O servidor Lucas Virgens é assíduo nas arquibancadas da Arena Fonte Nova em dias de jogo do tricolor. Assim como faz no estádio, prestigiou a oficina a caráter, com o seu manto sagrado. Após a atividade, o jovem afirmou que o amor pelo Bahia não para de crescer.
“Fico feliz pelo clube ter vindo e promovido esses debates no âmbito institucional. Enquanto jovem negro, me sinto representado e ainda mais orgulhoso com o Bahia. Essa representatividade é essencial, assim como promover as ações afirmativas para toda a comunidade”, celebrou Lucas.
Com o projeto e outras ações de políticas afirmativas, o Bahia segue reforçando a sua marca e vivendo uma supervalorização da sua imagem. O clube já foi até pauta de grandes veículos noticiosos internacionais, a exemplo do frânces Le Monde e do britânico The Guardian.
Mas, para o gestor do “Dedo na Ferida”, Fábio Souza, todas essas conquistas não passam de consequências de algo que se pretende permanente, em busca do combate às desigualdades sociais dentro e fora de campo.
“O Bahia busca ir na contramão das ações afirmativas pensadas de forma utilitarista, publicitária. Esse é um clube que está em todos os bairros periféricos e, perceber isso, nos faz trabalhar de forma estrutural. Queremos um Bahia plural, no qual as pessoas se sintam representadas e, assim, ainda mais próximas. As outras questões são apenas consequência do trabalho”, explicou o profissional.
Reaproximação e conexões
Ao que tudo indica, o plano tem funcionado. Porque se a servidora Juliana Castro já considerou os espaços esportivos muito violentos e excludentes, hoje ela busca uma reaproximação com o time do coração.
“Fiquei bastante surpresa com esse tipo de iniciativa do Bahia. Gostei porque dá para ver que é uma coisa que tem raiz, que trata de maneira estrutural. Não é só uma campanha ou ação temporária”, salientou a profissional da Unead e ex-atleta amadora, frisando que já está em busca de uma nova camisa do selo “Esquadrão”, do clube.
Impressionada pela qualidade do trabalho desenvolvido pelo projeto, a coordenadora geral da Unead, Tânia Benevides, foi a responsável por registrar o interesse institucional em participar da ação e recepcionar a oficina.
“Todas as minhas expectativas foram superadas. Somos torcedores e agora torcemos também por esse projeto, que ele chegue em todos os lugares”, disse a gestora, que também convidou o Esporte Clube Bahia para a elaboração de um curso livre sobre o tema, para disponibilização para todo o estado.
Fotos: Danilo Oliveira/Ascom